Em tempos de redefinição energética global, uma pergunta se impõe: quem serão os protagonistas da próxima matriz energética mundial? A corrida por fontes limpas e seguras está em curso, e o Brasil — com sua matriz renovável, recursos naturais abundantes e vocação exportadora — começa a ocupar uma posição privilegiada nessa disputa.
O Brasil tem o que o mundo precisa
Enquanto grande parte das economias ainda depende fortemente de combustíveis fósseis, o Brasil opera com uma vantagem estratégica: mais de 44% de sua matriz energética já é renovável, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Esse percentual contrasta fortemente com a média global, que gira em torno de 14%.
Além disso, o país captou em 2024 cerca de US$ 37 bilhões em investimentos voltados à transição energética, figurando entre os dez destinos mais atrativos do mundo, segundo levantamento da BloombergNEF.
Mas não é só uma questão de potencial — é uma oportunidade histórica.
O tabuleiro geopolítico mudou. E a Europa busca novos aliados
A guerra na Ucrânia, a crise energética de 2022 e as metas do Acordo de Paris aceleraram a urgência da União Europeia por fontes externas de energia limpa. O Green Deal Europeu — que prevê neutralidade climática até 2050 — exige parceiros confiáveis, escaláveis e ambientalmente responsáveis.
É aí que o Brasil entra. Não apenas como exportador de commodities energéticas, mas como um parceiro estratégico para a segurança energética do bloco europeu.
Hidrogênio verde: o novo pré-sal brasileiro?
Dentro dessa agenda, um vetor desponta com força: o hidrogênio verde. A Europa já sinalizou que quer importar 10 milhões de toneladas do insumo até 2030. O Brasil, por sua vez, tem sol, vento e água em abundância para produzi-lo de forma limpa e competitiva.
Estudos da Fundação FHC indicam que esse mercado pode movimentar US$ 2,5 trilhões por ano até 2050. Estados como Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte já atraem megainvestimentos internacionais para projetos de produção e exportação.
Não é exagero dizer que o hidrogênio verde pode se tornar o novo pré-sal da economia brasileira.
O que está em jogo?
Mais do que atender à demanda energética global, o Brasil tem a chance de redesenhar sua posição no mundo: de fornecedor de matérias-primas para player estratégico da nova economia limpa.
Mas para isso, será preciso mais do que recursos naturais. Será necessário:
- Investir em infraestrutura de exportação,
- Fortalecer marcos regulatórios que garantam segurança jurídica e previsibilidade,
- E ampliar parcerias comerciais com foco em tecnologia e inovação.
Estamos prontos para assumir esse protagonismo?
A transição energética não é apenas uma pauta climática. É uma disputa econômica e geopolítica de grandes proporções. O Brasil tem os atributos para liderar — resta saber se teremos a estratégia, a ambição e o foco necessários para transformar potencial em protagonismo.
Porque o mundo não vai esperar. E o Brasil tem tudo para se tornar um parceiro-chave na nova matriz energética global.