A aplicação de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto de 2025, representa um desafio relevante para a economia nacional, mas está longe de ser um impasse definitivo. Ao contrário, a medida pode acelerar a diversificação dos mercados externos e reforçar o movimento que o Brasil já vem fazendo em direção ao Sul Global, em especial China, Índia, África e os países do BRICS+.
No entanto, os Estados Unidos continuam sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de 10% de nossas exportações totais em 2024.
Neste artigo vamos abordar os impactos técnicos da tarifa, os setores mais afetados e, principalmente, os caminhos viáveis para reposicionar o Brasil como ator estratégico nas novas cadeias globais de valor.
Impactos diretos das tarifas: ajustes no curto prazo
As tarifas atingem principalmente o agronegócio, a indústria química e o setor aeroespacial. Produtos como café, suco de laranja, carne bovina e fertilizantes são fortemente afetados, com expectativa de queda nas exportações para os EUA entre 30% e 50%, segundo projeções do setor citrícola e da indústria de insumos.
Estudos do Oxford Economics e do Centro de Pesquisas da Bloomberg apontam que o impacto no PIB brasileiro pode variar de –0,3% a –1,0% em 2025, afetando fortemente estados exportadores como São Paulo, Mato Grosso e Paraná.
É preciso reconhecer que os Estados Unidos continuam sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de 10% das exportações totais brasileiras em 2024, segundo dados do ComexStat. A relação bilateral envolve cadeias produtivas complexas, por isso, medidas protecionistas dessa magnitude geram impactos relevantes sobre a produção, os acordos comerciais e a estabilidade cambial no curto prazo.Mesmo diante do movimento natural de diversificação de mercados, o peso do mercado americano ainda se faz sentir, especialmente em estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso, onde o volume exportado aos EUA é superior à média nacional. O aumento tarifário de 50% impõe desafios logísticos, pressiona preços internos e demanda ação imediata das empresas exportadoras. É por isso que este momento exige não apenas respostas diplomáticas e comerciais, mas também estratégia técnica e reposicionamento proativo frente à nova configuração do comércio internacional.
Uma nova geopolítica comercial: a força dos BRICS+
Nos últimos anos, o Brasil tem ampliado consistentemente sua presença comercial com os países do BRICS, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, desde 2024, também Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes e Arábia Saudita.
China, por exemplo, foi responsável por mais de 31% das exportações brasileiras em 2024, com compras concentradas em soja, minério de ferro, carne e petróleo bruto. Além disso, os acordos entre Brasil e China em moedas locais (swap yuan-real) aumentam a resiliência cambial e reduzem a dependência do dólar no comércio bilateral.Segundo estudo do Center for China and Globalization (CCG), o Brasil é o país do hemisfério ocidental com maior alinhamento produtivo com a Ásia, especialmente nas cadeias de alimentos, energia e fertilizantes.
As oportunidades estratégicas
A imposição de tarifas pelos EUA exige respostas firmes, mas também abre espaço para ações de longo prazo mais robustas, como:
- Reorientação comercial para Ásia e África, com maior participação nos BRICS, ASEAN e iniciativas da Nova Rota da Seda;
- Acesso a fundos estratégicos dos BRICS+, que somam mais de US$ 400 bilhões disponíveis em infraestrutura, energia e industrialização;
- Acordos bilaterais de cooperação tecnológica, agrícola e de inovação com Índia e China;
- Fortalecimento de hubs logísticos no Atlântico Sul e acordos portuários com África e Oriente Médio;
- Uso da estrutura do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS) para financiamento de exportações e hedge de risco.
O papel do Brasil no novo comércio global
O cenário global de 2025 exige que o Brasil repense sua inserção no comércio internacional com foco em resiliência, sofisticação produtiva e diplomacia econômica ativa. A dependência excessiva de mercados politicamente instáveis, como o americano, deve ser compensada com a ampliação de acordos multilaterais e presença comercial nos blocos emergentes.
A BRING Consulting atua nesse processo como parceira de empresas, governos e instituições, conectando cadeias produtivas brasileiras a oportunidades no Sul Global. Nossa abordagem combina inteligência geopolítica, articulação institucional e estruturação de projetos de internacionalização com foco em resultados de médio e longo prazo.
O tarifaço de 50% imposto pelos EUA não é o fim da linha, é um ponto de virada. O Brasil pode e deve usar este momento para recalibrar sua estratégia comercial, ampliar sua base de parceiros estratégicos e consolidar sua posição como fornecedor confiável de alimentos, energia e tecnologia para o mundo em desenvolvimento.
Com método, dados e articulação, a saída não está apenas em resistir, mas em avançar rumo a negócios sem fronteiras.