A diplomacia econômica nunca esteve tão em pauta quanto neste novo ciclo de reconfiguração geopolítica global. A iminente ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia, após mais de duas décadas de negociação, impôs ao Brasil não apenas a tarefa de se alinhar tecnicamente às exigências do pacto, mas também o dever de articular sua posição estratégica como líder regional na transição sustentável. Neste sentido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o acordo será assinado em 20 de dezembro de 2025.
No contexto da COP 30, que foi realizada em Belém (PA), o Brasil se tornou vitrine e voz de um novo pacto geopolítico baseado em clima, energia e cadeias de valor sustentáveis. Esse ambiente propício à convergência entre política ambiental e expansão comercial criou uma janela única para estados, municípios e empresas brasileiras se posicionarem de forma mais competitiva nas mesas multilaterais.
Resultados concretos da COP30
A COP30 encerrou‑se em Belém com uma série de resultados que refletem avanços, mas também revelam lacunas importantes. O acordo final adotado pelos países participantes promoveu uma promessa voluntária de elaboração de um roteiro de transição de combustíveis fósseis, sem contudo incorporar no texto oficial um compromisso vinculante de eliminação gradual de óleo, gás ou carvão. Foi também aprovado um conjunto de 59 indicadores globais para monitorar a adaptação climática, além de um esforço de triplicar o financiamento para adaptação até 2035, ainda que os detalhes de alocação fiquem aquém do que especialistas consideram necessário. O Brasil, como presidência da COP30, conseguiu aprovar 29 documentos unânimes entre os 195 países presentes, marcando uma vitória diplomática.
Para atores subnacionais, regionais e empresariais, o aprendizado é claro: os tratados e fóruns multilaterais ainda são decisivos, mas ganharão peso real quando acompanhados de estrutura institucional, inteligência regulatória e capacidade de execução local.
Acordos como Mercosul‑UE exigem leitura estratégica
Acordos como o Mercosul‑União Europeia não são apenas documentos comerciais, são instrumentos de reposicionamento de nações no tabuleiro geopolítico. Ao prometer tarifas mais baixas, acesso a licitações e convergência regulatória, eles impõem padrões técnicos, ambientais e sociais que exigem do Brasil uma resposta institucional estruturada.
A ausência de estratégias regionais ou setoriais pode fazer com que o país perca protagonismo nos próprios mercados que ajudou a negociar. Por isso, é urgente que governos subnacionais e empresas entendam esses acordos como plataformas de competitividade e não apenas como ameaças tarifárias.
É necessário ampliar a capacidade de análise regulatória, a produção de inteligência de mercado e a formação de quadros técnicos capazes de ler esses acordos sob a ótica de ganho estratégico, mapeando as oportunidades escondidas nos anexos, cláusulas de sustentabilidade e capítulos regulatórios.
Convergência regulatória e ambiental
O Brasil viveu um paradoxo: potência agroambiental e ao mesmo tempo alvo constante de críticas por fragilidades em sua governança climática. A COP30 e os acordos multilaterais reposicionaram o país na condição de “policy‑shaper”, mas apenas se ele souber converter seus ativos naturais em argumentos geopolíticos e vantagens comerciais.
O capítulo ambiental do acordo Mercosul‑UE, por exemplo, é central: o acesso pleno ao mercado europeu estará condicionado à rastreabilidade ambiental da produção, ao cumprimento do Acordo de Paris e à governança climática nacional. Isso exige investimentos em certificações, tecnologia de monitoramento, ESG robusto e cadeias produtivas integradas à economia de baixo carbono.
Empresas que não internalizarem essa lógica poderão ser excluídas do jogo global. Estados que não se estruturarem institucionalmente para orientar seus setores produtivos também ficarão à margem. Inserção competitiva é, hoje, sinónimo de adequação climática e regulatória.
Estados e municípios como protagonistas
A diplomacia econômica não é exclusividade do Ministério das Relações Exteriores. Hoje, os atores subnacionais têm papel decisivo na atração de investimentos, na estruturação de projetos exportáveis e na construção de plataformas de cooperação internacional. Com a realização da COP30, o Brasil teve a chance de demonstrar como suas regiões estão preparadas para liderar agendas de transição ecológica e desenvolvimento sustentável.
Acordos como Mercosul‑UE abrem oportunidades específicas para setores como bioeconomia, energia renovável, tecnologia limpa, agricultura sustentável e economia circular. Mas, para aproveitar isso, é preciso que governos locais saibam traduzir seus ativos em narrativas globais. Isso exige organização institucional, mapeamento de vocações e capacidade de atuação internacional.
Os estados brasileiros com projetos sólidos, marcos regulatórios confiáveis e canais de diálogo com organismos multilaterais têm mais chances de captar investimentos, estabelecer parcerias técnicas e promover seus produtos em cadeias globais de valor. A diplomacia descentralizada é uma vantagem competitiva que o Brasil ainda precisa explorar em sua plenitude.
A BRING e os novos cenários
A BRING atua no ecossistema internacional como catalisadora de oportunidades que conectam atores locais a plataformas globais. Nossa abordagem integra diplomacia econômica, inteligência regulatória e construção de alianças estratégicas para governos e empresas que desejam atuar em arenas multilaterais com competitividade e legitimidade.
Nos posicionamos como facilitadores para quem busca entender e influenciar os fluxos de investimento, inovação e comércio a partir de uma visão integrada de ESG, geopolítica e novos arranjos internacionais. Acreditamos que a atuação internacional não é um fim, mas um meio para estruturar novos modelos de desenvolvimento nos territórios.
Na era da transição ecológica e da reconfiguração geopolítica, os acordos multilaterais deixaram de ser apenas papéis diplomáticos para se tornarem guias de sobrevivência econômica. O Brasil tem a chance de ser protagonista, mas essa liderança dependerá de sua capacidade de alinhar visão estratégica, ação institucional e inserção regulatória.
O futuro será dos que souberem negociar além das fronteiras. Negócios sem fronteiras não são apenas uma metáfora: são uma realidade em construção, e a BRING está nesse caminho.

